quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Anunciando um novo Urbanismo

Em média são atropeladas 16 pessoas por dia em Portugal, 4 delas são crianças e 40% dos atropelamentos ocorrem em passadeiras. Enquanto os atropelamentos nas passadeiras são maioritariamente devidos ao desrespeito das regras de trânsito por parte dos peões, os atropelamentos fora destas são devidos principalmente à distracção ou excesso de velocidade dos condutores.

Há duas conclusões básicas a retirar destes dados. A primeira é que os portugueses têm uma predisposição cultural incrível para não cumprir regras. É uma doença já bem enraizada em todos os ramos da sociedade e sem dúvida uma das principais causas da situação económica em que nos encontramos. Porque ao Português só interessa ter a barriga e os bolsos cheios, os meios não interessam muito, e tudo pensa de forma provinciana.

A segunda é que a forma como encaramos actualmente o sistema de viação em que peões e automóveis partilham o mesmo espaço não tem nexo. Numa época em que o tempo e o dinheiro urgem, parar o trânsito para permitir a passagem de peões ou de outros veículos não faz sentido. Cruzamentos, semáforos, rotundas, vias para automóveis ao nível do chão, todos estes sistemas serão substituídos nas cidades do futuro por vias suspensas ou subterrâneas. Para quem possa pensar que isto são tudo modernices desengane-se! Le Corbusier, um dos mais famosos arquitectos de todos os tempos sonhou e projectou uma cidade do futuro já em 1925, em que o seu centro era composto por arranha-céus de escritórios que deveria ocupar apenas 5% da área da total e uma área periférica habitacional jardinada compondo o restante da cidade. A cidade não era mais uma selva de betão mas sim um enorme jardim em que os carros em situação alguma se entrecruzavam com peões. Tais sistemas já existem hoje como o “Transrapid”, um comboio de levitação na Alemanha, ou o “Eurotunnel” que se estende por debaixo de todo o canal da Mancha. Obviamente que tais sistemas só são possíveis em cidades pensadas desde o inicio para os receber, o que implicaria a construção de novos centros económicos para quase todas as cidades do mundo, levando ao abandono das “velhas” cidades. Não é algo com que nos tenhamos que preocupar muito, para alem de não serem muitos os edifícios que teríamos que conservar pelo seu valor histórico, há uma crescente vaga de casais jovens e relativamente abastados que procura residir nessas áreas, dando uma grande ajuda na conservação dos edifícios e do comércio local.

Claro que é tudo muito bonito, em vários países, como o nosso, um projecto impraticável pois haveria maneira de corromper sempre o sistema (como se tivéssemos dinheiro para ele). Mas mesmo os países abastados não se devem preocupar em construir novas cidades, anunciando um novo urbanismo, todo este sistema será inútil num prazo muito curto. Acontece que os desastres naturais e sociais da Terra são cíclicos e a corda que andamos a esticar já devia ter partido há 100 anos… Paulo Varela Gomes, o mais respeitado historiador da arquitectura portuguesa, numa das suas eloquentes aulas à qual tive o prazer de assistir disse “Invistam num burro e numa carroça, que isto daqui a 30 anos rebenta tudo…”


Fonte:


http://www.apsi.org.pt/24/comunicado_de_imprensa_alargado.pdf


http://www.publico.pt/Sociedade/todos-os-dias-sao-atropeladas-16-pessoas-em-portugal_1309583


http://books.google.pt/books?id=ZlNUAAAAMAAJ&q=city+of+tomorrow+le+corbusier&dq=city+of+tomorrow+le+corbusier&hl=pt-PT&ei=3IZVTsPvA423hAfPj6n7BQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCoQ6AEwAA

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